quarta-feira, 4 de março de 2009

Cogumelo. ( Parte II )

[...]
Cassie não gostou de ter ouvido aquela frase. Realmente estava assustada, com o local, com o ar... Com o gnomo, que agora aparentava ter trocado de aparência repentinamente...Ficara mais tenebroso do que Cassie sempre achou.
Andaram até atrás de sua pequenina casa feita de folhas e galhos que caíram das grandes árvores negras, rodada por um médio jardim de cogumelhos e flores que nunca tinha visto em sua vida.Eram de todas as cores, inclusive, os cogumelos...Mas apenas um chamara realmente sua atenção.Era um cogumelo pequeno... Um pouco prateado.Parecia que ele a chamava a cada olhada desfarçadamente que Cassie apresentava.Thirpotts, por sua vez, percebera que a garota não conseguia parar de dar uma certa atenção especial ao cogumelo.Seu plano estava lançado, ele tinha voltado aos velhos tempos.Só que, desta vez.. Havia algo diferente.

- Lindo, não? - Perguntou a garota, sorrindo.
- Sim, aonde o conseguira?
- Foi a muito tempo, minha criança.Ele faz algo especial...Que você nem imagina.
- O que ele faz, me conte. - Cassie dizia, afobada.Thirpotts seguiu até o cogumelho, desembaiando um pequeno canivete.Cortou um pequeno pedaço, não mais que o necessário, dando a Cassie.
- Vamos, coma.Assim verás o que realmente estou falando.
- Acha que vou cair nessa? Não gosto de Alice no país das Maravilhas, meu caro amigo. - Respondeu, desconfiando das verdadeiras intenções do gnomo.
- Você que sabe, minha querida.Todos que experimentaram de minha pequena preciosidade não se arrependeram.

Cassie por um segundo pensou em voltar atrás em sua decisão.Ficou a encarar o pequeno gnomo que sorria graciosamente para ela, até chegar a um veredito.Não resistiu.Sua curiosidade era maior que sua certeza, acabou por aceitar o convite do pequenino, e comeu o pedaço de cogumelo, quase engasgando.
- Agora me conte o que ele faz, pequeno gnomo. - Perguntou mastigando o resto de cogumelo que tinha em mãos.
- Bom, eu o ganhei a séculos atrás.Naquela época, este local, era habitado por muitas crianças...De praticamente todas as idades, e quem sabe, até em sua forma adulta...Gostava de brincar com elas, aprender sobre seus sonhos...Suas histórias, suas vidas.E ainda mais, de vê-las agônizando no chão, enquanto seus sonhos eram arrancados grosseiramente de si mesmas. - Disse Thirpotts, entregando o jogo.Infelizmente, era tarde demais.Cassie começara a sentir pontadas muito fortes em seu coração, dores em sua cabeça, sangramentos em seus olhos...Sentia um pedaço de sua alma sendo arrancada a garfadas de seu corpo.. Era dor demais...Thirpotts, que havia sentado ao lado de Cassie, começou a observar a garota, atentamente, continuando com sua história.
- Este cogumelo, tem o poder de arrancar os mais doces sonhos secretos de quem o prova, assim, trazendo-os para mim.Faço coleção deles, é um hobbie. - Começou a gargalhar fortemente, alcançando seu pequeno canivete novamente. - Uma pena que você tenha abandonado sua crença infantil, ela era mais doce do que isso que você adota de crença agora.Deveria ter trazido você aqui a anos atrás. - Gritou, fazendo pequenos cortes em Cassie, que mais pareciam arranhões...Cassie os sentia como se estivessem arrancando uma de suas pernas.. Era muito forte.Começou a sangrar mais e mais, não entendia o porquê de ter caído na armadilha do gnomo diabólico.Tentou recobrar sua consciência.Respirou fundo, pensando em algo a fazer.Assim que olhou o cogumelo, tentou esmagá-lo com um soco.Infelizmente estava muito fraca para tal, não conseguia se mexer direito.Tentou novamente, e quando Thirpotts percebeu o plano da garota, partiu para cima.Subiu em seu rosto, furando seus olhos. Cassie não aguentava mais, ainda mais agora que seus olhos haviam sido furados.Ergueu sua mão, e agarrou Thirpotts, conseguindo lançar-lhe contra uma árvore.Golpe de sorte, ficou inconsciente no mesmo instante.
Cassie tentara novamente esmagar o cogumelo, mas não conseguia achá-lo.Não via nada...Todas as feridas doiam, seu coração quase não palpitava mais.Arrastou-se ao lado oposto, tentando levantar...O máximo que havia conseguido fora equilibrar-se em seus joelhos, tentando apalpar a terra.. em busca do cogumelo.Arrancava todos que conseguia encostar suas mãos.. até que, por fim, arrancou o cogumelo pela raiz.
Thirpotts que era ligado ao cogumelo,sentiu-se muito fraco...Sangrava, assim como o cogumelo.Cassie em uma tentativa de salvação, começou a arrastar-se pela floresta gritando por socorro.Ninguém a atendia.Estava desesperada.Acabou por cair em um buraco, um pouco fundo, apertado...Thirpotts que havia seguido a garota, quase em mesma situação, gritava diabolicamente por seu nome.Assim que percebera que Cassie estava no buraco, num último suspiro de força, conseguiu que uma pedra caísse no buraco, esmagando Cassie por inteira.Ele havia cutucado um Javali que estava adormecido, tal acabou por sair correndo, fazendo com que a pedra caísse no buraco.
Thirpotts que estava muito fraco, cortou seu dedo e bebeu seu próprio sangue.Gnomos tem poder auto-curativo em casos de extrema necessidade.Caiu na grama, ficando imobilizado por alguns minutos.Assim que abriu seu olhos, sentiu toda sua energia renovada, em um pulo, estava em pé, gargalhando e cantando sobre sua vitória por sair de mais uma dessas.


- Nem tudo que parece é, garotinha.Mais cuidado da próxima vez.Bom...Se houvesse próxima vez - Dizia gargalhando.




Natalia M. ( Nina )

terça-feira, 3 de março de 2009

Cogumelo. ( Parte I )

1986.
Cassie era uma garotinha normal, como todas de sua idade. Não separava-se de seus pais, apenas quando eles tinham que trabalhar e inevitavelmente deixá-la com a babá que não era muito gentil.Bárbara era velha, gorda e tinha um mal hálito que Cassie prendia a respiração para falar com ela.Odiava isso, queria estar sempre com eles.
No mesmo mês, acontecera um acidente de carro na avenida principal próximo a sua casa.
Ela nunca mais vira seus pais novamente.Lamentava-se todos os dias por não estar naquele carro junto a eles.
Três anos se passaram após o grande acidente.Cassie foi mandada a casa de seu tio Benjamin, um velhinho gentil que morava em um cazebre próximo a uma floresta não muito amigável, em Ballybofey.A casa não muito grande parecia confortável aos olhos de qualquer pessoa.Um local pequeno, com a mobilia o mais mágico possível.Era uma pena que todo aquele cenário de contos de fada viria a se transformar em um verdadeiro pesadelo assim que uma grande lua reinasse nos céus, tomando o lugar do sol por algumas horas.Quando tudo ficava em silêncio, concentrando-se bastante, podia-se ouvir o sussuro dos gnomos que seu tio afirmava existirem próximo ali, na floresta ao lado. Cassie nunca se aventurara a entrar lá, tinha medo de não conseguir achar o caminho de volta, assim como em João e Maria, só que sem madrasta má e migalhas de pão.Ela gostava muito de histórias infantis, mesmo que, não estivesse mais na idade de ler histórias para dormir.Cassie acreditava que a essência dos livros continuava a partir do momento que a pessoa estivesse disposta a preservá-las dentro de si, e era assim que formavam-se grandes contadores de histórias.Seu tio Benjamin era dono de histórias incríveis, que deixavam seus olhos a brilhar, dando asas a imaginação.
O tempo passou e Cassie foi perdendo o medo pela floresta que atormentava ás vezes seu tranquilo sono.Não ouvia mais os tais gnomos de seu tio, estava perdendo sua essência infantil.
Não ligava mais para toda a crença que tinha quando criança, julgava babozeira no momento.Entrou em sua fase adolescente, apenas queria viver e sentir tudo ao extremo. Garotos, shows, amigas, sexo...Era apenas o que ela queria conhecer no momento. Não dava a mínima para todo o resto.
Um dia chegou em casa após o colégio, não aguentava mais aquela rotina escolar, achava tudo aquilo desnecessário, um saco.
'- Eu apenas quero dormir!' - Dizia enterrando a cara no travesseiro.
- Posso ajudar-lhe com isso, pequena garotinha.

Cassie não sabia de onde era aquela voz um pouco fúnebre, assim que ouvira levantou sua cabeça do travesseiro, ficando alerta para qualquer coisa que pudesse se mexer bruscamente.
- Não é necessário ter medo, sou amigo. - Continuou dizendo a voz.
- Ok. Apareça.Não estou vendo você. - Cassie disse suspeitando da voz, que não era nada amigável quanto dizia ser.
- Mas eu estou aqui, na sua frente. - Disse um homenzinho pequeno, com uma roupa listrada e gorrinho verde.Cassie olhou para ele indignada, pensando em uma explicação lógica para tal.Era tão pequeno, não deveria ter 10cm de altura, seu rosto era um pouco bizarro, com um sorriso estacado em tal.
- O que seria você, estranha criaturinha? - Perguntou levantando levemente sua sobrancelha esquerda.
- Oh sim, perdoe-me aparecer desta maneira, sem me anunciar antecipadamente. Sou Thirpotts, o gnomo.
- Mas gnomos não se vestem de verde? Pensei que fossem diferentes. - Disse Cassie, analisando o pequeno detalhadamente.
- Histórias infantis distorcem a verdade, minha cara.Nada é como aparenta ser. - Afirmou tenebrosamente.

Após muita conversa e esclarecimentos, Cassie começou a gostar de Thirpotts.Ele era divertido e muito sábio, apenas lamentava sua cara fúnebre e bizarra.Não ligava mais, como ele mesmo havia lhe dito uma vez ' Nada é como aparenta ser'.Certa vez, ele a convidara para ir até sua pequena casa, no meio da floresta.Cassie ficara com um pé atrás perante ao convite, mas depois de muita insistência da parte do gnomo, ela acabara aceitando o convite.
Na manhã seguinte entraram na floresta. Cassie havia matado aula, não estava dando a mínima para o que poderia acontecer.
- Que floresta mais... estranha. - Dizia sentindo o ar mortuário que saiam das árvores, era praticamente noite de tão escura e fria que era.
- Acalme-se minha querida, é apenas uma sensação ruim... Mais á frente melhora.

Thirpotts estava quase chegando próximo a sua pequena casa, quando percebeu que Cassie estava começando a se questionar perante a floresta. Ele não era tão divertido e bom quanto Cassie imaginava.No passado, era um gnomo muito psicótico, gostava de capturar crianças que por ventura se perdiam dentro de uma floresta onde confundia seus sentidos se não houvesse muita atenção no caminho.Achava divertido o fato de vê-las agônizando após comer um pedaço de seu cogumelo especial. Não era muito grande, e muito menos vermelho com bolinhas brancas, assim como eram representados nos tradicionais contos de fadas repassados de geração á geração, era branco, pequeno... Nada atraente.Mesmo com todas as descrições menos suculentas possíveis, Thirpotts ainda conseguira fazer todas elas provarem do tal cogumelo.
Assim que, colocavam na boca o pequeno pedaço, Thirpotts transformava-se numa criatura terrível, estranha... Mudava completamente.Sentava-se ao lado de sua vítima, a observando de perto.. Quem sabe, ás vezes, arrancar um pouco de sangue ou pele.. Ele adorava fazer isso, sentia-se aceso por dentro.

- Finalmente chegamos! - Disse ele.
- É aqui? - Perguntou a menina, um pouco assustada com o local.
- Sim minha criança...Tenho algo a mostrar. Venha, venha... É por aqui.

[...]




Por: Natalia M. ( Nina )